quinta-feira, 26 de agosto de 2010

Crônica...


Estranha Realidade


- Posso entrar doutor?

- sim! Claro!

- onde eu fico?

- deite-se aí

- o que quer saber?

- Zé, conte-me sua história até você chegar aqui e o porquê que não quer sair daqui, está sendo ameaçado?

- não doutor. Acho que a males que vem para bem, eu não era registrado não tenho mãe nem pai, era morador de na rua avenida paulista, aqui em são Paulo, minha vida era sofrida engraxava sapatos para granfinos na praça da sé no centro da cidade, não conseguia dinheiro nem pra comer, sem estudo, sem casa e pior ainda sem ninguém, até que dia eu conheci a Betty era da rua assim como eu, simples honesta e melhor ainda, não me olhava com pena e acho que foi isso que me chamou a atenção, sempre fui tímido, mas com ela eu me sentia a vontade andávamos sempre juntos nos bons e nos maus momentos, em dias de sol ou de chuva ela sempre estava do meu lado, mas me sentia incomodado ela era sonhadora, e eu não poderia realizar nem uma pequena parte desses sonhos, mas acho que prova de amor igual a minha é impossível de ser feita.

- Como assim?

- A gente era pobre não tinha o que comer e quando a fome aperta tem horas que não dar pra agüentar, ela tava desesperada pediu esmolas a manhã toda e não tinha ganhado quase nada e o que eu tinha ganho como engraxate só deu pro almoço

- e o que fez?

-entrei no super mercado ainda no centro, e roubei duas latas de comida instantânea, só que um dos seguranças viu e acabou me prendendo

- foi assim que veio pra cá?

- sim

- e por que não quer ir embora?

- Aqui tenho três refeições diárias, e pra ganha-las tenho apenas que limpar os banheiros pela manhã e dividir minha cela com quatro caras

- tem amizade com eles?

- todos não, apenas com Jorge e alem disso a tarde tem banho de sol posso bater um futebol com os outros

- não sente falta da Betty?

-não muito ela ta bem, tanto choro deu resultado, uma bondosa senhora se sensibilizou com nossa historia e a ajudou, ela tem emprego, e um lar

- por que não vai morar com ela

- quando eu sair daqui doutor; serei um ex-presidiario e a maioria das portas se fecharão pra mim, não conseguirei emprego em lugar nenhum e não quero explorar a Betty, à gente se vê todas as terças e quintas e dá matar um pouco a saudade.



“A vida nos traz uma realidade tão estranha, que as algumas vezes um castigo dado injustamente pela sociedade pode vir a se tornar uma benção”



14/Nov/08



Autor: Thyêgo Anjo

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